Em 1962, no livro "Primavera Silenciosa" (Silent Spring), Rachel Carson lançou a primeira advertência sobre os perigos dos organoclorados. O alerta de Carson era claro: Presente em pesticidas, solventes, plásticos e outros produtos químicos, os organoclorados (toxinas resultantes da combinação de cloro e matéria orgânica) poderiam contaminar os organismos de todos os homens, mulheres, crianças e animais do planeta, assim como o ar, lagos, oceanos, peixes que aí vivem e as aves que deles se alimentam.
Hoje, já está suficientemente documentado o papel dos organoclorados na dizimação de populações inteiras de aves, focas e outros animais, na infertilidade, na feminilização dos machos e no déficit de desenvolvimento dos órgãos sexuais. Evidências científicas crescentes indicam que os organoclorados podem estar prejudicando o funcionamento interno do organismo humano - ao alterar os níveis hormonais, provocar defeitos congênitos e infertilidade , comprometer as funções mentais de crianças, causar câncer e diminuir a resistência a enfermidades por deprimir os sistema imunológico. Como os sintomas clínicos da exposição a estas substâncias químicas podem tardar a se manifestar nos seres humanos, só agora se evidenciam as implicações em larga escala para a saúde, antecipadas por Rachel Carson. A partir do momento em que a geração dos anos 50 e 60, exposta no útero materno a essas substâncias, atingiu a idade reprodutiva, as evidências começaram a se impor. Algumas substâncias cloradas permanecem intactas no meio ambiente por décadas e mesmo séculos. Organoclorados persistentes são parte da dieta diária de todos nós. Essas toxinas podem ser encontradas no sangue humano, no leite materno, nos músculos e no tecido adiposo de pessoas em todas as partes do globo.
Acumulando-se nos tecidos através dos tempos, elas se somam às cargas corporais de substâncias perigosas que ameaçam à vida. Recentemente, por exemplo, pesquisas comprovam que as pessoas expostas a dioxinas durante o acidente industrial na cidade italiana de Seveso, em 1976, são mais propensas a certos tipos de câncer. [...] este relatório é mais do que um alerta: pretende contribuir para o debate sobre o assunto no Brasil e funcionar como instrumento de apoio à luta do Greenpeace e outras instituições pela proibição total, em escala mundial, da produção de organoclorados. Se permitirmos que se continue a produzir poluentes químicos capazes de interferir em funções tão básica da vida humana , estaremos pondo em risco os alicerces biológicos da nossa própria espécie. [...]
Extraído do site <www.acpo.org.org.br/biblioteca//bb/Grennpea.htm> - Acesso em :23 mar. 2010