O Realismo E As Bases Científicas Da Identidade Nacional

A idealização romântica do desejo de definir aquilo que seria genuinamente nacional , começou a ser substituída na década de 1870 pelo realismo. A partir de então,  científicas de raça e natureza passaram a ser incorporadas aos estudos literários. Com a aceleração do processo de abolição da escravatura não era possível desconsiderar os negros nas elaborações literárias sobre a questão nacional. Os primeiros estudos afro-brasileiros surgiram das preocupações de letrados , como Sílvio Romero e Nina Rodrigues , com a questão racial. Nesses trabalhos , sobressai a valorização da raça branca, considerada superior a todas as demais , em sintonia com as teorias raciais europeias do período . No entanto, a valorização do branco não impedia o reconhecimento do mestiço como o principal representante da população brasileira. Para Sílvio Romero, havia uma verdadeira "luta entre as raças", na qual o elemento branco acabaria por preponderar após um longo período de miscigenação. Para evitar maior degeneração racial, seria necessário, contudo, que a raça mais evoluída fosse numericamente superior às demais. Assim, o estímulo à imigração de europeus não era apenas uma engenhosa forma de eliminar o regime escravista no Brasil. Tratava-se do destino da própria nação, que como imaginação e desejava  sua elite, deveria ser branca. Numa outra direção, Nina Rodrigues acabou por reconhecer o mestiço como expressão da identidade nacional. Cada tipo racial teria uma habitat onde poderia desenvolver-se adequadamente. Nas cidades do litoral do Brasil , caracterizadas segundo Nina Rodrigues por uma civilização de tipo europeu, os mestiços carregavam as marcas da degeneração , não estando à altura da complexidade da formação social. No entanto, no interior do país, tipificados na figura do Jagunço , eles podiam adequar-se plenamente e desenvolver suas potencialidades. O ambiente hostil e agressivo requereria , de acordo   com o estudioso, homens igualmente hostis. Os estudos sobre a mestiçagem traziam à tona o que as senzalas impediam que se constatasse claramente. Após quase quatro séculos de escravidão de apesar de todas as restrições de acesso à cidadania no Brasil, o paós era composto em sua maioria por negros e mestiços. A elite, motivada pela indignação com a escravatura , pelo temor à rebeldia escrava e pelo desconforto com a maioria negra, decidiu-se pela abolição. O discurso abolicionista procurava acelerar o processo de emancipação e dar garantias à integração do negro na sociedade. Realizada a emancipação política do Brasil, construído o Estado nacional e garantida a unidade territorial, tornava-se imperativo reconhecer as cores da nação . Essa tarefa política combinava-se à necessidade de redirecionar a cidadania de forma a torná-la acessível aos ex-escravos- sem esquecer os senhores , também degenerados pela violência do escravismo- sob pena de prejudicar irremediavelmente os destinos nacionais.