Há no Brasil um movimento social que não aparece muito nos jornais e na televisão: o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto , atuante principalmente nos grandes centros urbanos, como São Paulo , Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Os sem-teto agem de modo organizado. Uma das formas de pressão que adotam é a ocupação de imóveis. As ações envolvem de cem a duzentas famílias , que se instalam no local escolhido e informam às autoridades que passarão a viver ali, mesmo em condições precárias , até que lhes seja propiciada uma opção de moradia. Quando a polícia , em consequência de uma ação judicial , força a desocupação do local, os sem-teto procuram outro imóvel e organizam nova ocupação. Os alvos mais frequentes são imóveis velhos e desocupados, em geral edifícios abandonados por proprietários que deixaram de pagar o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) , forçando o poder público a desapropriá-los. Em alguns casos , sob a pressão dos sem-teto , os governos declaram esses edifícios de interesse social, possibilitando que se tornem moradia para quem não a tem. A maioria dos participantes do movimento são trabalhadores que não têm condições de pagar um aluguel , mínimo que seja, ou que não querem morar na periferia , pois não têm recursos para pagar aluguel e transporte até seus postos de trabalho. Há entre os sem-teto trabalhadores que ganham no máximo um salário mínimo , e muitos desempregados. Na terceira semana de setembro de 2003, milhares de estudantes de 12 a 22 anos paralisaram por três dias a capital da Bahia, Salvador , manifestando-se contra o aumento das passagens de ônibus. Em ações relâmpago , eles invadiam as principais ruas e avenidas e bloqueavam o trânsito, sentando-se no chão para impedir a passagem dos veículos. A manifestação ocorreu sem nenhuma articulação de organizações estudantis ; muito ao contrário , os estudantes negaram a possibilidade de liderança tanto da União Nacional dos Estudantes (UNE) quanto da União Baiana dos Estudantes Secundaristas (UBES) , pois não queriam ser acusados de servir como instrumentos políticos dessas organizações , que , na expressão deles, possuem vinculações partidárias. As ações relâmpago eram definidas em mini-assembleias e em cada ponto da cidade decidia-se quem podia passar ou não. A preocupação era não prejudicar as pessoas que necessitavam chegar ao local de trabalho, além de garantir o livre trânsito de mulheres grávidas, idosos e portadores de alguma deficiência. Em sua maioria , os participantes das manifestações eram alunos que viviam na periferia da cidade , o que significa que os gastos com transporte tinham um peso importante no orçamento familiar. Com o movimento , eles conseguiram que o prefeito e seus auxiliares sentassem para discutir o aumentar e a implantação da meia passagem para os estudantes.