Uma Vez que os temas da geografia acompanharam e fazem parte do cotidiano das pessoas, inscrevendo-se nas suas condições de existência , tal fato parece justificar sua popularidade . Não precisamos frequentar a escola para comungar com a geografia. Nós a percebemos e a aprendemos por força do nosso próprio cotidiano. Partamos, por exemplo, do modo como costumeiramente formamos nosso conhecimento geográfico. Todos moramos em um lugar e temos familiares e amigos que moram em outros lugares. Estes diferentes lugares são ligados por ruas, avenidas , estradas. Pessoas , objetos e idéias fluem entre esses diferentes lugares , entrecruzam-se através das artérias que os põem em comunicação. Ajudam-se ou ignoram-se. De diferentes lugares são extraídos recursos que em diferentes lugares úteis e que são inter-combinados entre diferentes homens , de diferentes lugares. Podemos adquirir os diferentes objetos em diferentes lugares. Podemos adquirir os diferentes lugares. Uma combinação de lugares e de relações entre lugares tece uma unidade de espaço, o espaço geográfico, constituindo o espaço de existência dos homens. Este espaço pode ser a residência , a fábrica ou o próprio mundo. Como estas unidades de espaço justapõem-se , porque mesmos homens habitam diferentes unidades de espaço, e se embutem, porque uma unidade de espaço inscreve-se em outra maior , como a família , que se inscreve na fábrica, que se inscreve na cidade, que se inscreve no mundo, que se inscreve no universo, temos uma escala complexa e abrangente. Fazemos parte de uma totalidade que se compõe de uma diversidade de coisas, e é a integralidade dela que forma a existência humana. Serve-nos este painel de nossa percepção habitual do espaço geográfico para a crítica da geografia que pretendemos. O próprio painel sugere-nos uma ideia de organização e de estrutura. Se passarmos da descrição acima para sua explicação , já estaremos realizando uma passagem para a formulação de um dado discurso geográfico. Assim, poderemos passar a dizer que a geografia é um discursos global, consequentemente um saber enciclopédico, que nos confere , pelo seu domínio, o domínio de tudo. De tudo e do todo. Porém nem todos procedem desse modo. A maioria das pessoas forma este mesmo juízo "intuitivamente" . De qualquer modo, todos formamos um "mapa mental" da geografia que vivemos. Porque a geografia é realidade objetiva."
(Moreira, Ruy . O que é Geografia. Pp. 56 e 57. Ed. Brasiliense. 1981)